27 novembro 2007

Ocultados

II

O sangue escorrendo pelo ralo. A bala saiu de meu peito em chamas e caminhou em direção à ponta do revólver. Uma nuvem de fumaça, um estalido, o barulho do gatilho, tudo acontecia em sequência.
-
Me afugentou, me fez ir até o banheiro, e então falou.
Tentei fechar a porta, mas não tive tempo. Cheguei até os quartos ofegando, e então corri por toda a casa até passar pela porta de entrada. Pulei o portão que dá para a rua, tropecei, corri para dentro do mato. Corri para fora do bosque, na estrada, dei um tiro. Dois tiros. Descarreguei o pente da pistola. Puxei a arma. Pulei do carro em movimento e caí sobre a terra molhada. Entrei no carro e fugi por 2 ou 3 horas.
O homem atirou, mas errou o tiro. Veio caminhando em minha direção, surgiu do beco escuro, enquanto isso eu observava dois meninos no outro lado da rua.
Estava chovendo, senti que algo não corria bem, derrubei meu cigarro e minha moeda da sorte.

I

Minha vida nunca tinho sido feliz. E não acabou diferente.
Estava saindo da escola, com medo como sempre. Meu pai havia ido me buscar, de carro, como sempre, e seus amigos estavam por perto. Eu nunca gostei dos amigos do meu pai.
O carro mal pode sair da frente da escola, quando eu vi córtex, sangue e água voando na direção da minha roupa. Eu sendo bem pequeno não fui atingido pelo projétil que atravessou a cabeça de meu pai, bem ao meu lado. Eu olhei para fora do carro, vi um homem com uma pistola na mão e um cigarro na boca sair correndo, muito rápido. Alguns dos amigos do meu pai foram atrás dele, e outro ofereceu-se para acompanhar-me até minha casa.
Porém, ele não me levou até minha casa. No meio do caminho, encontrei uma menina colega minha, a qual eu gostava muito, e estávamos indo juntos para casa. Então o amigo de meu pai se aproveitou da situação e nos deixou ir sozinhos, enquanto correu para uma das ruas escuras paralelas à qual estavamos eu e minha colega.
Caminhando, poucos minutos depois, vi um homem na rua. Solitário. Girava uma moeda entre os dedos. Tinha certeza que era o homem que vi de dentro do carro do meu pai. Começamos a nos encarar, profundamente, e sem querer, tropecei e cai. Enquanto estava no chão, ouvi minha colega rir muito, e ouvi os passos do homem, que tinha começado a correr. O amigo do meu pai surgiu e atirou no homem, depois ambos entraram em carros, provavelmente roubados, e sumiram.
Eu, em contrapartida, corri para casa em prantos. Encontrei minha mãe morta, nua, na cozinha, e um dos amigos do meu pai dormindo nu na sala. Achei que não precisava ver mais nada à partir de então. A faca do churrasco foi a ferramenta mais útil que encontrei naquele momento.
Ainda vejo alguém tentando escalar uma montanha, todo dia. Sinto que conheço essa pessoa. Eu, pelo menos, sou feliz hoje em dia.

2 Comments:

At 28 novembro, 2007 10:33, Anonymous Anônimo said...

simmm.... li...
tem conexão com o texto de baixo?

 
At 30 novembro, 2007 09:15, Blogger . samanta vanz . said...

o.O
eu to com medo destas conexões estranhas que existem na vida...
acho que nada é como uma moeda de dois lados, mas como um poliedro de diversas faces (não me lembro do nome de nenhum com muitas faces, então vai o genérico mesmo!).
além do conteúdo bacana, o formato dos teus textos sempre me surpreende!
\o

 

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